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Dia da Ação Humanitária e o mundo que vivemos

Atualizado: 31 de out. de 2022


O dia 19 de outubro é muito importante para aqueles que gostam das relações internacionais ou trabalham com ela. Neste dia é celebrado o Dia da Ação Humanitária. Exatamente por isso não poderíamos deixar passar em branco um marco tão importante para os que se interessam e se engajam em um tema tão fundamental. A data tem o intuito de celebrar e exaltar os profissionais que estão na linha de frente em situações que poucos têm a coragem de agir. Momentos estes que podem envolver uma grande periculosidade e que em alguns casos pode ser fatal.


O trabalho feito por estas pessoas tem que ser enaltecido porque existem circunstâncias em que grande parte da comunidade internacional se ausenta em cenários mais calamitosos, mas vemos organizações como a Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras atuando em realidades adversas. Tudo isso envolve um sacrifício da saúde mental e da vida pessoal que não está inserido dentro desta equação complexa que vem a ser o mundo humanitário.


Atuação da MSF em país da África na luta contra o ebola (Crédio: Médicos Sem Fronteiras)

A atual situação política e social do Haiti é um exemplo de como o trabalho desses agentes deve ser exaltado, já que colocam em risco muita coisa para poder ajudar aqueles que mais precisam. Para compreender a situação atual desta nação caribenha precisamos entender que as origens do problema remontam a um processo histórico muito mais amplo.


Primeira república negra do mundo e primeiro país do hemisfério ocidental a abolir a escravidão, o Haiti foi castigado por ser tão revolucionário e a frente do seu tempo. Ele teve que pagar uma quantia astronômica para a França (ex-metrópole), simplesmente pelo seu desejo de ser livre. Esta punição do mundo escravagista impossibilitou com que o Estado haitiano pudesse se desenvolver desde os seus primórdios. As consequências são sentidas até hoje em dia, sendo a instabilidade e intervenções (diretas ou indiretas) na política do país uma constante.


O Haiti já vinha enfrentando vários problemas nos mais diversos setores da sociedade na sua história recente, mas o assassinato do Presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021, agravou ainda mais a situação. Naquele momento, as questões internas resultaram numa estagnação do processo eleitoral. O magnicídio fez com que o poder caísse no colo do primeiro-ministro Ariel Henry. Entretanto, falta legitimidade para ele, já que o país não teve uma eleição nos últimos seis anos. Por não o ter escolhido, a população não o reconhece, tanto que muitos foram às ruas pedir a sua renúncia.


A ausência do Estado é percebida de forma clara quando vemos que quem manda na capital, Porto Príncipe, e grande parte do país, não é Henry; mas gangues que estão em constante disputa. Estas têm ferramentas de intimidação e controle extremamente violentas, incluindo o estupro. Além disso, elas “administram” o principal porto do país, dominando o acesso a combustível e insumos básicos para a sobrevivência da população haitiana. O medo é tamanho que muitas pessoas nem saem de casa, mesmo passando fome, temendo pelo pior.


Moradores em Porto Príncipe, capital do Haiti (Crédito: Reuters)

O bloqueio feito por estes grupos criminosos nos principais acessos do Haiti acarreta a falta de água e de quesitos básicos que só agrava o mais recente surto de cólera no país. Quando fazemos um recorte econômico, percebemos uma inflação galopante e sem muitas perspectivas de arrefecer com os combustíveis subindo devido ao cenário interno e externo.


O país caribenho tenta de várias formas encontrar soluções para os seus problemas, mas sem esquecer que eles não são pontuais e com raízes profundas. A comunidade internacional tem o seu papel, todavia ainda existe muita hesitação por parte da ONU, EUA e França, para citar alguns.


O secretário-geral da Organização das Nações Unidas pediu o envio imediato de forças armadas especializadas para lidar com a crise humanitária no Haiti, porém há um racha no Conselho de Segurança se este é o melhor caminho. As intervenções que ocorreram, como por exemplo a MINUSTAH, falharam em estabelecer instituições fortes no país e por isso mesmo tem uma rejeição interna.


Uma realidade delicada como esta, na qual 19 mil pessoas atingiram os níveis mais altos de insegurança alimentar, é a que se apresenta para aqueles que são celebrados no dia 19 de outubro. A explicação sobre o que acontece no Haiti serve para demonstrar o que estes agentes enfrentam e por isso mesmo devem ser exaltados não só numa data, mas diariamente.

 

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